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sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Nosso cão alcoólatra e seu veterinário homeopata

Neil abstêmio a força Ferreira

Nosso cão ? Nosso nada, nós é que somos dele. Chicão é mais um sortudo
ex-sem teto, que a minha filha recolheu da rua para fazer companhia ao
Fedegoso, também recolhido e que hoje é o dono de fato da nossa casa.
Aceitei mais este habitante e pensei com toda minha sabedoria que os
dois não conviveriam, assim como dois invasores do MST não aceitam
dividir o butim entre si nem por fingimento; a cumpanherada é cada um
pra si, ou “cada um pra mim”, que é o lema do ex-barbudo Careco desde
os tempos imemoriais.
O que sei de Lula li no livro “O que sei de Lula”, de José Nêumanne
Pinto, jornalista, poeta, cinéfilo, romancista (“O Silêncio do
Delator”) e agora historiador da nossa história recente e competente
analista de um dos seus personagens mais esquisitos, o inventor da
frase-lema mais mentirosa da Novilingua, falada no país “dos mais de
80%”: “-- Nunca antes na história dessepaíz”.
Lula, quando ainda frequentava o chão da fábrica, deu um puxão de
orelha num companheiro que trabalhava rápido e bem no seu torno,
muito melhor do que ele, Lula fazia: “-- Cumpanhero, assim você me
prejudica...”; é uma das passagens do livro.
Chicão veio, viu e venceu; após rapidíssima vitória e invasão do
nosso território vital, no segundo minuto em que entrou em casa, com o
flanco protegido e reforçado pela tropa aliada (a minha filha Ju).
Foi uma “blitzkrieg”, guerra relâmpago, de fazer inveja às Panzer
Divisions, que ocuparam a Polonia em poucas horas e tomaram a França
em um mês.
Fedegoso é um cão de tamanho médio, chegou há alguns anos e já me
domesticou; aprendi diretinho quais as fofices que faz para receber
o preço combinado: um biscoito; e qual a mistura que ele gosta de
comer, adicionada à ração, para melhorar um pouco o sabor da gororoba
que lhe é servida. Sabe aquelas rações que aparecem anunciadas na tv,
mostrando lindos cães comendo felizes da vida ? Conversa fiada.
Fedegoso não as come sem mistura nem que eu faça aviãozinho (já
tentei, pensa que não sei ).
Chicão, como o nome indica, é grandalhão e chegou em casa só pele e
osso. Ah, sim. Cheirava mal de dar pena em nós, ele já devia estar
acostumado. Primeira medida de autopreservação nossa: veterinário,
banho e vacinas. Primeira medida de autopreservação dele: atacou a
tijelinha do Fedegoso e mandou ver toda comida que tinha lá.
Quando voltou do veterinário de imagem mudada era outra pessoa, mas
isso só por fora; por dentro, continuou a mesma doçura e bom humor que
nos conquistou a todos e de imediato – Chico é um cão que sorri o
tempo todo.
Quem mesmo teve dramática troca de imagem há poucos anos, passando da
noite para o dia a usar “Armani” e “Dolce e Gabbana” ? E cuja
amantíssima esposa, dita a “Galega”, habituou-se a vir de Brasília a
Sumpólo num jatinho chapa-branca, para frequentar seu cabelereiro
predileto, onde colocava em dia as fofocas da sua roda, a nobreza
sangue azul do ABC ?
“Num vi nada, num sei di nada, sisquici”, lema do reinado du Roi Louis
51, que tentou implantar a palavra de ordem “Tout le pouvoir au
peuple”. “Le peuple” lá deles, diga-se; “les camarades (a
cumpanherada) au pouvoir”, sabe-se.
Adaptado, Chicão treinou nosso funcionário José, que cuida com
especial competência do nosso jardim, a levá-lo passear todas as
manhãs. É só o Zé chegar que o Chicão começa a docemente pressioná-lo
para a saída diária.
Certo dia o Zé notou que o Chicão mancava da pata dianteira direita e
avisou a Ju, que imediatamente levou-o ao veterinário, que receitou
uma injeção anti-inflamatória.
Natureba convicta, a Ju desconfia da alopatia. Quis uma segunda
opinião e lá foi o Chicão consultar o dr. S*, veterinário homeopata
aqui do bairro.
“—Estresse”, foi diagnóstico, ao perceber que o Chicão mancava também
e/ou da pata esquerda; acho que, hipocondríaco ou espertalhão, Chicão
esquecia-se de qual pata mancaria para obter mais atenção ainda.
“-- Floral, quatro gotas quatro vezes por dia”, foi a receita;
desconfio que pelo resto da vida pois homeopatia é mais ou menos
assim, o tratamento não acaba nunca.
Quem iria pegar o Chicão quatro vezes por dia, abrir sua bocarra,
pingar as gotas e depois dar um prêmio para ele, em geral um pedaço de
manga ou banana, que ele adora ? Eu, é claro; a Ju nunca tem tempo,
coitada, ocupadíssima com seu doutorado na USP.
Para minha surpresa, depois da primeira dose não tive nenhuma
dificuldade para medicar o Chicão, ao contrário. Ele passou a me
rondar, como que pedindo outra dose e outra e outra.
Curioso, fui verificar o rótulo do vidro do Floral e lá está escrito
“30% brandy”; 30% de conhaque importado, a gente serve isso em casa
em noite de visita importante e só no inverno.
Chicão viciou, virou alcoólatra, se não ganha as suas doses de
direito, periga de cair em síndrome de abstinência, “DT”, ou “Delirium
Tremens”. Fui conversar com o dr. S*, que me falou para ficar
tranquilo, nada havia de mal nisso, dito o quê, tomou uma boa talagada
do mesmo Floral que o Chicão toma.
Alguém aí conhece algum “AA” ou “rehab” para cachorros ?
DESCULPE FALAR DO CHICÃO, UM TEMA SÉRIO. NÃO ESQUECI A CAÇA AO(s)
LUPI(s), TEMA CARREGADO DE HUMOR NEGRO.
Lupi sabe aonde os corpos foram desovados.
Lupi é um arquivo vivo, tenho convicção, embora nenhuma prova.
Lupi, se cair, abre a boca e dela saem cobras, lagartos e podres da
cumpanherada, tenho certeza, embora nenhuma prova.
Lupi tem a Cacica pela coleira, estou íntimamente persuadido, embora
não tenha nenhuma prova.
Lupi sabe coisas que até Zé Dirceu duvida; se cair o mundo cai,
porisso sempre diz ao povo que fica, sei do fundo do coração, embora
eu não disponha de nenhuma prova.
Chegamos ao fundo do poço – e continuamos cavando. Esse é o país dos
“mais de 80%”. Esta é mais uma convicção que tenho, sem precisar de
prova nenhuma.
PS: Todos vimos nos jornais a mesma foto do ex-barbudo Careco, na
“foto oficial” da sua doença, tirada pelo ex-fotógrafo da presdência
nos dois mandatos do agora Careco.
O fotógrafo acompanha o Careco em todas suas atividades por conta da
seleção brasileira, pois é integrante da Comissão Técnica, nomeado
por... por quem mesmo ? “Sei lá, não sei... “(diria Chiquê Buarquê du
Holandá).
Nessa cobertura diuturna, registrou o momento da derrubada da
cabeleira e da poda barba.
Especula-se se é verdadeira a especulação que cochicha em voz bem alta
ter a Gillete oferecido trilhões de zilhões de dracmas para fornecer o
barbeador do evento, aquele mesmo do Kaká.
Acham que o Careco recusou por Kaká ser um ex são-paulino. Se fosse o
barbeador do Ronaldo Fofão, ex-córintchano, quem sabe... sabe-se lá.
Mas o “bottom line” deste lero todo é o seguinte: o que realmente
assola o Careco com mais gravide – a doença do marketing, que o
acomete desde o início da sua carreira de metalúgico de porta de
fábrica; ou o marketing da doença, comprovado pela maneira como a
mídia é utilizada para criar mais, digamos, simpatia ?
De quem esse marketing quer mais simpatia ? De nós, que desde a
primeira hora demonstramos respeito e compreensão, ou do país dos
“mais de 80%”, a quem “sugerem” orações, promessas e romarias ? A
crença não é uma idéia que a mente possui; a crença é uma idéia que
possui a mente.
--
NEIL FERREIRA
QUEM TEM CACICA É INDIO
PCC - POVO CONTRA A CORRUPÇÃO

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