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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Manias que todos nós temos, por Marli Gonçalves

Nós, quem? Nós, vírgula!, você diria, já negando? Mas daqui a pouco vai relaxar e concordar. Todos nós somos muito loucos. Nossas minimanias são legais, algumas são geniais. Desde que não incomodem outros e ultrapassem os limites. Senão, vira o tal transtorno obsessivo-compulsivo, TOC, se toque!


Os psiquiatras, psicanalistas, psicólogos, analistas, terapeutas têm. Personalidades têm. Jornalistas têm, nem te conto! Publicitários são campeões, provavelmente empatados com religiosos de todos os naipes e militares. Loiras mexem nos cabelos, numa escovação contínua com os dedos. Atores usam óculos escuros bem grandões para não ser reconhecidos, chamando sempre a atenção. Gays mais liberados, homens ou mulheres, têm a mania de mostrar trejeitos claros de suas opções.

Manias são informativas. Mas não podem ser encaradas com preconceito, senão não se consegue aproveitar essa parte boa. Manias são engraçadas, mas deixe para rir em casa quando descobrir a de alguém. Manias são válvulas de escape, e muitas aparecem só quando ficamos tensos ou nervosos. Manias são dedos-duros, nos entregam sem que a gente perceba.

Algumas tiram o tesão. Outras são até afrodisíacas.

Não conheço nenhum estudo sobre esses nossos tiques, a ponto de poder liberar geral e dar aval à mania de ninguém, apenas observo - como diria? - as ruas, o tal grito rouco das ruas. Por exemplo: falar sozinho! Todo mundo um dia se distrai e sai falando sozinho. Ri sozinho de alguma coisa que lembra, conversa consigo mesmo. Debate uma ideia, como se realmente houvesse aquele anjinho de um lado e o diabinho do outro, como nos filmes. Dentro do carro, então, nossa! Igual, repare só, quantos limpam o "salão" do nariz, a maioria homens.

Cachorro fala? Que eu saiba, ainda não. Embora você tenha praticamente certeza de ouvir e ver vários nas ruas, conversando com seus donos, animadamente. Na verdade, dublados. Namoram, paqueram, fazem amigos, têm suas reações explicadas em detalhes.

Nota importante: antes de continuar lembrando mais manias, preciso adiantar que nada me exime - faço várias dessas coisas.

Tem as manias íntimas, beirando o inconfessável. Quem nunca se esqueceu de depilar um lado de alguma coisa? Quem nunca voltou da rua para se certificar de que a janela estava mesmo fechada, ou a torneira, a privada sem descarga? Quem nunca passou o dia inteiro tentando se lembrar de alguma coisa que, tem certeza, esqueceu, mas não era para esquecer e talvez nem tenha esquecido nada?

Quem nunca fez silêncio ao ouvir gemidos gostosos e camas falantes no apartamento de cima, no de baixo, do outro lado da parede? Quem nunca pegou um copo para escutar melhor, em "3D" ? Quem não parou de prestar atenção em quem estava com você quando, ao lado, rolava uma conversa bem mais interessante de ouvir? Legal mesmo é quando quem está com você tem a mesma mania, saca, e para de falar, fica em silêncio, para ouvir também. E quem não deu aquela última olhadinha no espelho, de rabo de olho, antes de sair, para ver se a bunda está lá no lugar, a sua mesmo?

E no trânsito, então? Confesso: tenho mania de ler as placas dos automóveis e ficar pensando palavras ou expressões para elas. Tipo: ABN, Associação das Baratas Narigudas, ou Nauseabundas, ou Nervosas, ou Nocivas, ou... Passo minutos nessa mania-brincadeira, incontrolável. Fora que tenho mania, na verdade, de ler tudo, e por isso amo profundamente a Lei Cidade Limpa de São Paulo, que melhorou muito a minha vida. Antes, era tanta coisa, tanta tranqueira, que voltava esgotada de tanto ler nas ruas. Não posso!

Para vocês terem uma ideia, fiquei doida semana passada, passando na Marginal Pinheiros e, de longe, avistando uma placa de rua "M. Gonçalves" . Outros tempos, e eu já me veria armando um plano para, digamos, "obtê-la".

É. Eu também tenho mania de colecionar umas coisas. Algumas, até com sentido; outras, absurdas, e às vezes temporárias. Coleções que, quando descobertas ou quando observadas com calma, revelam manias que, convenhamos, não caem muito bem. Você deve ter alguma. Todo mundo, acredito, por mais minimalista que seja, coleciona alguma coisa. Não é possível não ter essa mania. O cara pode achar que não, mas coleciona, sei lá, camisas brancas. Outro, listas de mulheres (que fez) infelizes. Outras talvez colecionem amantes maravilhosos. Ou caixas de fósforos, isqueiros, canetas. Gravatas. Tem quem colecione, com prazer, desafetos. Outros, dívidas. Dizem que todas as mulheres colecionam bolsas e sapatos, mas prefiro não comentar.

Tem quem tenha a mania de mentir, tão mania que a verdade começa a mentir para tentar se encaixar. Tem quem tem mania de ser outra pessoa, o que deve ser um sofrimento e tanto, embora sejam tipos tão comuns.

Todo mundo tem uma mania antes de dormir. Todo mundo tem, por mais ateu, uma persignação que faça, seu Cruz Credo particular. Todo mundo olha disfarçadamente a sola do sapato quando sente um cheiro que pode ser, digamos, uma pisada. Todo mundo tem mania de gostar de sentar em lugares específicos, todo mundo tem uma mania ou forma de comer algo, ou alguém. Eu, me entrego pela última vez hoje, juro, por exemplo, ACUSADO 1,2,3! - tenho mania de esburacar o queijo. Quando eu vejo, já foi, zapt! Tortinho. Nessa série tem: o tubo da pasta de dente, a tampa da garrafa, um lado da toalha.

Já ouviu falar que é feio sentar no próprio rabo? Às vezes somos tão críticos, ou tão ligados em preceitos sociais, que sofremos angústias. Sofremos e brigamos com a gente mesmo, o que faz com que uma das nossas melhores manias, a de conversar com o espelho, se torne difícil ou impossível.

São Paulo, 2010, onde normal é ser maníaco pelo menos um pouquinho.


(*)Marli Gonçalves, jornalista. Confessa várias manias, sem nenhum toque. Pensei agora em uma música: Mania de Você, da Rita Lee. Escrevendo, peguei mais essa mania aí. Mania de você.
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