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domingo, 25 de julho de 2010

O gosto de agosto, por Marli Gonçalves

O próximo 13 é dele, uma sexta-feira. A boca começa a travar, com certo amargo. Penso que não sou só eu que não gosto nadica de nada de agosto, embora dê tantas rimas. Virou lenda como mês do cachorro louco, embora a gente saiba que muita coisa ruim acontece em todos os meses do ano. Mas agosto ficou famoso; por que rima com desgosto, esgoto? Também dá ansiedade e angústia em quem já começa a ver o ano virando, pré-Passado.


Aqui tivemos presidente que renunciou, presidente que se matou. Já aconteceram muitas coisas estranhas em agosto, o que nos faz mesmo ficar com o rabo e a barba de molho. Por sua vez os romanos não gostavam do mês de agosto porque acreditavam na existência de um dragão enorme, horrível, que, cuspindo fogo pelas narinas, passeava no céu durante todo o oitavo mês do calendário gregoriano. O agouro de agosto é fabuloso, e garante até que assombrações, as almas do outro mundo que, entre gemidos e o arrastar de correntes balançam as redes dos que dormem após um longo dia de trabalho, costumam aparecer, pedindo missa, querendo rezas, no mês que é o mês do frio e da ventania. Horrível, mesmo.

Tem quem se desmobilize completamente em agosto. Não faz nada, não marca nada, não assina nada. Pior que em tempos de Copa do Mundo, de paradeira, e que - olhem - a deste ano ainda não passou, por conta justa e certamente dessas tantas dúvidas agostinianas. Dizem que não é mês bom nem para casar. Eu acrescentaria outros meses para dizer que, realmente, isso não é bom. Casamentos e separações têm todos os dias e meses do ano. Agosto leva a fama? Já na Alemanha, vejam só, agosto é o mês predileto das noivinhas.Surpreendente.

Na Argentina, andei sabendo, não é aconselhável nem lavar a cabeça durante todo o mês de agosto. Quem lava a cabeça em agosto está chamando a morte. Deus me livre, eu que detesto cabelos sujos todos os dias do ano! Todos os cabelos e pelos? Sem uma aguinha, um sabãozinho? Abominável.

Por aqui - nos nossos recantos de país maravilha - chegaram muito fortes as lendas portuguesas dos colonizadores do pedaço e eles não eram - e não são - bem chegados no gosto de agosto, nem com azeite. Mas o que será que tem de verdadeiro nisso, além de, especialmente, ter dia do Soldado e do Advogado? E o dia 24 de agosto ser o Dia das Sogras? Que tal 24 de agosto ser o dia em que o Diabo anda solto, fazendo as suas? Sabia? 24 de agosto é o dia de todos os Exus nos candomblés brasileiros. Chego a achar que eles sobem, sim, mas é para o bem de nos proteger dessa emanação toda. Vamos nos concentrar: agosto, vai, passa logo! Passa logo, agosto! Sinistro. Tenebroso. Nervoso.

Dizem que nós, os brasileiros, somos otimistas por natureza. Tenho percebido que isso vem mudando, e que as pessoas andam temendo até os próximos comerciais, quanto mais os minutos seguintes; quanto mais os dias e meses! A coisa anda tão rápida que muda de hora em hora, do bom para o ruim, vice-versa e versa-vice, que até os vices andam cheios de pitacos e frases de efeito. Emocionante.

O nosso problema é a imprevisibilidade. E como a gente não acredita em bruxas, mas elas existem, também não acreditamos em pesquisas, nem em projeções. Aliás, cá entre nós, não acreditamos é em mais nada. Uma coisa, beleza, que faz bem hoje pode ser execrada amanhã, veneno. Insistimos, sim, porque, quem sabe? É torpedão, loteria todo dia. Agora até loja de amostra grátis tem. Quem diria! E nem assim a gente acredita. Afinal, quando a esmola é muita, até o santo desconfia. Estarrecedor.

E não há santo, vidente, cartomante, quiromante, nem adivinho, espertalhão sobrenatural, pai-mãe-av�? ou avó de santo. Palma da mão, borra do café, búzios, bola de cristal, cartas, bacia cheia de água ou copo de sessão espírita. Não há curandeiro. Nem charlatão. Ninguém mais é capaz de peitar o que será do amanhã, sob pena de acertar até sem querer. Ninguém é doido.

Este ano não será diferente. Só pior. Tem eleições indefinidas. Tem Seleção indefinida. Tem situação mundial esquisita, lá longe e aqui perto. E como agosto se alastrou de vez, tem óleo na praia, fora acidentes bem fatais, muitos crimes passionais e tragédias climáticas. Fora doenças esquisitas e metamorfoses ambulantes. E eles, todos, os líderes, sem soluções, só com promessas. Têm, inclusive, entre eles, uns meio malucos aparecendo, e se criando, já ano após ano. Coisa que já vimos acontecer e que não dá certo; perigosas, justamente porque movimentam as massas. Às vezes umas contra outras. Temos bomba? Não temos? Adivinhe em que mês houve os ataques de Hiroshima e Nagasaki? Desolador.

Queria mesmo era ter o dom de antever, de prever. Já publiquei, há tempos, sob o pseud�?nimo Yazoddarah, coisas que poderiam até ser relances da intuição que uso para tudo na vida. À época, caprichava: estudava tudo o que podia, fuçava, prestava atenção, e saíam umas coisas legais, em geral sobre astrologia. Até hoje, pelo menos nessa área, uso esses estudos quando observo algumas coisas. Sei, por exemplo, reconhecer alguém do signo de Escorpião passando lá do outro lado da rua. Depois conto para vocês exatamente qual é o ponto.

Mas saber de agosto, sinto muito. Sei não.

São Paulo, agosto, perto da Augusta.


Marli Gonçalves é jornalista . Gosta de gostos e de agostos, desde que sem desgostos. Aproveita para lembrar que, em compensação, a 2ª Grande Guerra acabou em agosto. E que tudo pode ser lido ao contrário. Foi em agostos que nos livramos de dois presidentes bagulhos... .

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