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quinta-feira, 2 de abril de 2009

Horizontes, a um palmo de nossa cara!

por Marli Gonçalves

Nós todos estamos do mesmo lado do front, mas não cantamos as mesmas músicas, nem enxergamos juntos nem o final de cada dia, sempre imprevisível.
Você, por acaso, já se deu conta de onde já estamos? Que dia, do mês e do ano, já chegou? Precisa de um calendário? A gente pisca e pufff!!! Já foi outro dia e mais outro. Loucura como o tempo passa depressa, lépido, principalmente para quem está nas grandes cidades. A certa altura da vida, a gente só o percebe quando vê bebês virarem garotos e garotas, adolescentes e, assim por diante, mães e pais e avós. Tudo muito rápido e parece mais rápido que antigamente. E o tempo, a princípio, os segundos, os minutos e as horas, são os mesmos em qualquer lugar. Mas não parece. "Amanhã vai ser outro dia...”

Às vezes, sinto como se estivesse 24 horas em cima de uma esteira, rolante, dessas de academia, rolando acelerada sob meus pés. Informação para tudo quanto é lado. O jornal do dia já chega velho e, na internet, corre para ver se já não mudou tudo! Refresh. Mudou. Dependendo do ângulo que se quer ver, até o horizonte muda de lugar. Vai chover. Vai fazer sol. Já fez. Frio, calor, frio! As coisas melhorando e piorando, tudo ao mesmo tempo. Como na música dos Titãs, "tudo ao mesmo tempo agora" .

Ninguém sabe onde vai dar (o destino - esclareça-se). Quem consegue prever qualquer coisa? Não há mãe Dinah que se meta à besta e apareça numa hora dessas - nem Walter Mercado. Quem há de arriscar em fazer previsões? Isso, desde quando a gente pensa no orçamento do dia-a-dia às questões mais complexas como o aquecimento global, ou se o Obama vai pegar as rédeas da situação. Falando em Brasil, por mais otimistas que sejamos, só conseguimos ver é a vaca indo passear no brejo, com a cara repuxada e tudo. Ou o boi ruminando besteiras mundo afora, e os carneirinhos contentes saltitantes puxando seu saco. E armações, propaganda para tudo quanto é lado, promessas para santo nenhum botar defeito. Deita falatório vazio! "Vamos acabar com o samba/Madame não gosta que ninguém sambe. Vive dizendo que samba é vexame/ Pra que discutir com madame?"

O ano passando. Que horizonte podemos ter? O que aparece de novo lá no fundo deste saco sem fundo? Todo dia, uma denúncia velha nova. E uma nova desculpa velha. E os velhacos de sempre no comando, de todos os lados. Daqui a pouco, São João, e logo, logo, o barbinha tentando nos convencer a comprar, comprar, dar, dar. E fazemos aquelas caras de pau oco, de quem não está nem aí, de bonzinho do terceiro setor, comprometidos com as causas sociais. Afinal, viva, tem um monte de feriados, tem praia, "sou Flamengo e tenho uma nega chamada Teresa" .

O país do Futuro que nunca chega. Está sempre laaaaaáááá longe. Temos que dispensar essas lideranças de blusinha branca de renda, de braços dados com o delegado. Governadores bonitinhos e viajantes em outros Estados, cada um puxando o telhado de vidro para apedrejar o outro. Podia ser uma mulher, a sucessora? Viram a dona que está rodando bolsinha por aí, querendo entrar na roda? Em sã consciência, quem acredita que isso é futuro? Ainda vamos ver mais ainda do retorno dos que não foram, poupe-me de enumerá-los, porque são muitos, dezenas, com seus olhos arregalados, bigodes, jaquetões, cabelos pintados, ternos mal-amanhados, amantes, fala empolada, caras-de-bobo e de lobo. Instituições! Quais? Onde estão aquelas letrinhas salvadoras de outrora, ABI, OAB, IAB, trocadas que foram por letrinhas que arrasam o que pisam, MST, PSTU, CUT e quetais? "No fundo do pára-raio/ Tem o raio, tem o raio/Que caiu da nuvem negra /Do temporal/Todo quadro-negro /É todo negro, é todo negro/E eu escrevo o seu nome nele /Só pra demonstrar o meu apego...”

O país do Presente morre de fome, e de frio; de febre amarela, de malária, de dengue, de desprezo, de abortos malfeitos, mãos para cima, de bala perdida, achada, roubada, enquanto uns apontam outros, em discursos sobre a necessidade de mudar. O país da terra onde estão nossos pés não tem esgotos, não tem saúde, não tem educação, não tem mais nem futebol! Mas esbanja peito de peru por aí. ”O pato vinha cantando alegremente/Quém! Quém!/Quando um Marreco sorridente pediu/Prá entrar também no samba/No samba, no samba...”

As grandes cidades, travadas. Algumas marcas que nos orgulhavam, verdes e amarelas, no prego, na bacia das almas. Nossos ídolos, morrendo, e os que nascem o fazem sem qualquer brilho particular, muito menos duradouro. Até de musas estamos deficientes. Nem moda, nem cultura, nem ciência - o que leva nosso nome ao mundo é sempre ou tragédia ou sandice ou bizarrice. "Brasil!
Terra boa e gostosa/Da morena sestrosa/De olhar indiferente/o Brasil, samba que dá/Para o mundo se admirar/ O Brasil, do meu amor/ Terra de Nosso Senhor... ”

Aqui, hoje, acontece até de qualquer bandido vagabundo, feioso e meia-tigela, virar famoso, condenadão e chefe, e passear para lá e para cá de avião, com cara amarrada, a caminho - ele, sim - de segurança máxima. Nem isso mais nós temos - bandidos memoráveis, ou que valham a pena ser guardados, pelo menos como história. Só pés-de-chinelo sem charme algum, que não servem nem para sonhos eróticos, ou romances com milionárias.

"Bandido, bandido corazón/No deja de te amar/Bandido, bandido corazón/No puedo controlar"...

Não é possível. Tem coisas acontecendo lá longe no horizonte. Tem de ter. Os dias estão passando. Eu, você e o mundo gastando nosso tempo aqui, trabalhando, nos desgastando, e o que é pior: não nos entendemos entre nós, uns ao lado de outros. Porque se eu digo algo que é uma realidade, essa mesma realidade não é nem consegue ser vista por esta maioria que mantém o sistema e é mantida com seus movimentos autômatos, constantes, maioria teleguiada e cercada. E a massa não quer exatamente ser acordada do gostoso soninho da cantilena de ninar.

A gente precisa pensar rápido como vai sair desta encruzilhada. Sem cair no abismo que agora estamos vislumbrando nessa redonda e azul bola planetária. Porque, afinal, "tudo é uma questão de manter a mente quieta. A espinha ereta. E o coração tranquilo” .

São Paulo, tic-tac, tiquetaque, 2009-2010.

• Marli Gonçalves, jornalista. Gosta de ver as nuvens mudando as formas. A Lua, quando parece sorrir. O Sol brilhando. Mas não tem conseguido parar de pensar, boquiaberta, no que vê até onde a vista pode alcançar.

"Besame, besame mucho...”

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