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quarta-feira, 22 de junho de 2011

O virundum do Poste

Neil duqueestrada Ferreira
O virundum, sabemos, é a forma popular, agora privilegiada até nos vestibulares da UFRJ em contraposição à forma culta da lingua portuguesa, hoje em relativa desgraça oficialesca, que defende o lullês como a novilingua, na reforma por enquanto informal da maneira como falamos e escrevemos a última flor do Lácio -- o virundum, repito, é “ôvirundum Ipiranga / as marge pracida (...)”, você sabe o resto se, como eu, vê futebol pela tevê.
A reforma “por enquanto informal” não demora vira lei. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal é presidida por João Paulo Cunha, um dos Quarenta... Réus do processo do mensalão no STF, que pratica a novilingua com perfeição. A Comissão de Educação tem como elemento de proa o Tiririca, 1.350.000 votos no Estado de Sumpólo, tido como o mais culto e adiantado “destepaíz”, não só a pratica mas também ensina.
O virundum foi escrito como homenagem à Independência do Brasil de Portugal, proclamada por D.Pedro I, é obrigatoriamente tocado e cantado pelos jogadores em todos os jogos de futebol, não sei se também pelos professores e alunos das escolas públicas nas suas aulas. Muitos dos jogadores cantam-no com a mão no coração, embora não tenham decorado a letra inteira que, reconheço, é muito comprida.
Abre parênteses para uma pequena explicação aos mais distraídos – conheço-os porque sou um deles. D.Pedro I era pai de D. Pedro II, portanto era o mais velho dos dois. Mas a Históra do Brasil, plena de armadilhas, apresenta sempre o mais velho com a figura de mais moço, barba feita, com bigodinhos finos aparados e costeletinhas à la galã (que era mesmo). O mais moço é mostrado com figura avoenga de muito mais velho -- duvido que alguém tenha visto sua cara de moço – com vasta barbona, costeletonas e bigodões brancos, vá a gente entender. O moço é o velho e vice-versa. Fecha.
Desde Pero Vaz de Caminha com sua carta a El Rei, aquela que todo mundo conhece e que ao descrever as nossas terras, dizia que são “tão ricas e dadivosas, que em nelas se plantando, tudo dá”, até os e-mails endereçados pela internet aos poderosos de outra maneira inacessíveis, e às redações dos jornais que criaram seções de desabafo dos leitores, escrever cartas é um esporte nacional.
Mas algumas cartas são mais cartas do que outras, essa do Caminha, a primeirona de todas é o exemplo primeirão de todos. Há outros.
A “Carta aos Brasileiros”, assinada por Lulla, antes da eleição de 2002, até parecia ter sido escrita por Malan, Meirelles e Fraga, da competente equipe econômica de FHC, que havia colocado o Brasil no rumo da prosperidade.
A “Carta aos Brasileiros” era para “acalmar o mercado”, temeroso do radicalismo da cumpanherada, que constantemente ameaçava com calotes nas dívidas externa e interna, com quebras de contratos, rompimento com o FMI e desprivatizações, que chamavam num mantra insuportável de “piratizações” e “privataria”.
O “mercado”, essa entidade de mil caras sem nenhuma cara, estava mandando o dólar às alturas de Quatro Reais (ou mais) cada um, e qual assustador Walter Mercado dos anúncios de rádio, comandava histérico a gritaria de “Compre djá !” “Venda djá !”, da Bolsa de Valores, que despencava.
Na minha opinião, foi uma carta tão importante e histórica quanto a de Caminha. Lulla venceu as eleições e falou-se muito na continuidade de Meirelles e Fraga na equipe econômica do primeiro mandato de Lulla.
Fraga recusou, Meirelles aceitou o Banco Central, onde ficou com Lulla nos seus dois mandatos, sempre alvo do “fogo amigo” do PT, mas prestigiado por Lulla, que nunca foi bobo nem nada. Meirelles ajudara a plantar durante o governo FHC, saberia colher melhor do que todos os Mercadantes do PT, somados. Soube.
Agora vem o que penso ser a carta mais importante dos nossos dias. É recente. Tentar avaliar sua importância histórica pode parecer atitude prematura e arriscada, ninguém pode avaliar o futuro num país em que dizem com muita sabedoria que “até o passado é imprevisível”.
É a carta assinada pelo Poste, em homenagem aos 80 anos de FHC, que se completam amanhã e foram comemorados há uma semana com um jantar de 400 talheres, na finíssima Sala São Paulo, que reuniu o non plus ultra da zelite brasileira. Não foi um frango assado com polenta, cachaça e cerveja no ABC.
Pesquei na carta que o Poste afirma que FHC é “acadêmico inovador”, “político habilidoso”, “presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica”, “que acredita no diálogo como força motriz da política”, “foi essencial para a consolidação da democracia brasileira” e luta por seus ideais “até os dias de hoje”.
Fechou com chave de ouro: “Não escondo que nos últimos anos tivemos e mantemos opiniões diferentes, mas justamente por isso maior é a minha admiração por sua abertura ao confronto franco e respeitoso de ideias."
Para mim, é o virundum do Poste. Proclamou sua independência do Lulla, parece que se libertou do discurso mentiroso e injusto da “herança maldita”. Esse ministério não dá esperança, não se livrou do lullopetismo. No entanto sua carta ao FHC pode ter sido um pequeno passo para a democracia, mas um grande passo para o postismo.
Ok, finalmente concordo com o Poste--

Neil Ferreira
Eu não votei no Poste

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