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sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Política-mente, correto? Por Marli Gonçalves

A política mente por todos os poros, nas nossas fuças. Além de se intrometer e interferir em nossas vidas, sonhos e projetos. E mesmo assim ainda tem gente que não entende que política de verdade é o nosso próprio viver. Apesar deles.


Vocês também pensaram que depois das eleições as coisas iam ficar mais divertidas, produtivas, e que o pior já teria passado? (E, inclusive, chegado ao Poder?) Engano. Os últimos dias foram ainda mais recheados de grandes abóboras, erros primários, conversas jogadas fora e especulações sem pé nem cabeça. As trapalhadas nos exames somaram-se à inabilidade inacreditável dos atuais motoristas do país Brasil, e o que é pior, dos futuros, também - já que a cada dia a esperança da chegada de cabeças bem pensantes se esvai no ralo incomum. Cada explicação mais fajuta do que a outra, esquecida logo depois. Cada ato logo seguido de um desato ou desatino. Mentiras oficiais de calça e perna curta embuchadas nas nossas gargantas.

Tem dias que "eles" todos penetram até nos nossos sonhos, transformando-os em pesadelos. Pois bem, então .

O vice-presidente José Alencar, quase 80 anos, internado há dias, com luta contra o câncer há anos, mais de 15 cirurgias, tem um infarto agudo do miocárdio. A nota diz que ele não corre risco de morte. Um mineiro imortal, finalmente.

No jornal que se dizia de oposição, ops, imparcial, a matéria de capa: "Com Dilma nas nuvens", sobre o voo da presidente eleita em primeira classe para a Coreia do Sul. Você leu aquilo? Não? Ah, que pena! Ficou sem saber que a nossa presidente também baba enquanto dorme, come frugalmente, usa pijaminha e chinelinhos coloridos que a maravilhosa companhia aérea fornece, e lê, lê muito. Anda com três livros na malinha, essa nova intelectual. E com o moderno IPAD para continuar lendo. Meu Deus! Que capacidade! Temo que ficaremos com nossa governante despachando de dentro das bibliotecas. Fora outros detalhes.

Ah, você não sabia. Não adianta negar que só soube agora. A nossa presidente, depois de eleita, "deixou" que f�?ssemos informados de algo fundamental: tem mãe. E mãe viva, daquelas, mineiríssima, inclusive bem falante, apessoada, classe média da Savassi, articulada, e... religiosa! Dilma Jane. E uma tia. Não parece estranho que só apareça agora alguéns que poderiam ter tranquilamente acabado com todos os "boatos" equivocados e "aleivosias" contra ela lançadas na campanha, conforme amplamente falado?

Enquanto isso, o ministro da Educação piscava os olhos claros, arrebitava o nariz e abria as asas sobre os INEPtos de sua pasta, cometendo erros ano após ano nos exames vestibulares. Desculpe aí, hein? Mas será mesmo que não tinha um único filho de Deus que pudesse ter revisado as provas na gráfica? Ô coitados!

Como? Estavam ocupados analisando e tentando censurar a obra de Monteiro Lobato? Está brincando! Verdade? Como é? Querem colocar notas explicativas para dizer que a carne preta de Tia Nastácia é afro-descendente? Para que as crianças não virem racistas imediatamente após a tal perigosa leitura das "Caçadas de Pedrinho"?

Vou falar baixinho porque, senão, grito. Muito do que aprendi na infância colhi ali nas obras de Monteiro Lobato, incluindo noções de Português e Aritmética, o respeito aos povos, a capacidade de sonhar, a importância da família, o respeito com todos, o carinho com os animais e a luta contra injustiças de toda a sorte, além de um enorme amor pela pátria. De crianças, as porcas torcem o rabo, com o Marquês de Rabicó, o Visconde de Sabugosa, a doida Emília, Narizinho, Pedrinho, a miríade de personagens. Ainda muito pequena apontava aos meus pais (e outros) quando muitas vezes estes eram racistas, ou não entendiam a igualdade entre as pessoas. Será que eu deveria ter sido proibida de ler? Será que foi por causa disso que virei subversiva e de esquerda durante a ditadura? Que perigo! Devia ter lido só "As princesas também soltam Pum", mas esta bobagem ainda não havia sido escrita à época.

De saco cheio desse politicamente correto que anda por aí, conclamo todos a esconderem, enquanto há tempo, os seus exemplares de "Reinações de Narizinho". Eles, os pentelhos do politicamente correto, podem achar que o livro está fazendo apologia às drogas e ao delírio das viagens. E o que é pior, influindo na formação de mulheres insatisfeitas. Mulheres que jamais terão príncipes, muito menos reinos de águas claras. E jamais terão, ainda, aquele vestido tecido pela Dona Aranha (forte incentivo ao homossexualismo?): um vestido da cor do mar, com todos os seus peixinhos. Tecido pela fada Miragem, cortado com a tesoura da Imaginação, cosido com a agulha da Fantasia, usando a linha do Sonho.

"Feito de cor - e cor do mar! Em vez de enfeites conhecidos - rendas, entremeios, fitas, bordados, plissês ou vidrilhos, era enfeitado com peixinhos do mar. Não de alguns peixinhos só, mas de todos os peixinhos - os vermelhos, os azuis, os dourados, os de escamas furta-cor, os compridinhos, os roliços como bolas, os achatados, os de cauda bicudinha, os de olhos que parecem pedras preciosas, os de longos fios de barba movediços - todos, todos". O vestido "não parava um só instante" de faiscar e brilhar, e piscar e furtar-cor, porque os peixinhos não paravam de nadar nele, "descrevendo as mais caprichosas curvas por entre as algas boiantes".

Muito louco esse Lobato, hein? E como diria a Narizinho aos desgovernados que nos governam: "Calem-se! Ou os peixinhos podem se assustar e sair correndo!"

São Paulo, reino das águas turvas e, por incrível que pareça, em 2010


• (*) Marli Gonçalves é jornalista. Cor predileta: furta-cor, e cor do crepúsculo. Estou como você: precisando ter ideias maravilhosas para sobreviver corretamente.
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