O perigo das massas não diz respeito só a engordar. O sujeito histérico de bigodinho rente, cara de maluco e mãozinha esticada. Milhões de outros esticando a mãozinha também. O discurso do todo mundo igual, treinado, vindo do homem de cara feia, fardado, que de Duce não tinha nada. Qual a diferença do sujeito atarracado - o ditador da Coréia do Norte, Kim Jong-il? E do outro baixinho, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad? São todos assassinos, mandantes, bárbaros, alucinados imbuídos de poderes e com domínio impressionante da comunicação e marketing.
Como são tão - ou mais - escrotos, midiáticos e sanguinários do que os outros, bem, esses dois últimos são visíveis, digamos assim. E Hitler e Mussolini já eram; só que foram, mas deixaram suas ideias de jerico e liderados aficionados.
Nós cantávamos e contávamos favas. Dizíamos-nos contentes, batendo no peito, celebrando que o horror jamais voltaria; que aqueles fatos horrorosos, como o Holocausto, Hiroshima, Nagasaki, jamais se repetiriam, porque o mundo estaria eternamente alerta. Era o fim das ditaduras, as da região "dos bananas" latino- americanos e outros, tribais, como as guerras africanas. Seria o fim da perseguição religiosa, racial, contra minorias.
Acho que desligaram esse alarme. Na última semana, mais de 300 ciganos foram deportados na França, como animais enxotados pelo elegante presidente Nicolas Sarkozy e sua linda primeira-dama, Carla Bruni. Depois de conseguir o apoio de Itália, a França ainda vai tentar convencer outros países da Europa a expulsar os ciganos, num congresso sobre imigração organizado para 6 de Setembro. Qual será o próximo?
Há alguns dias soubemos da chacina, fuzilamento, aniquilamento, assassinato cruel de 72 pessoas na fronteira do México com os EUA. Não é muito diferente do número de pessoas esperando por punições no Irã, por qualquer coisa que tenham dito que fizeram. Nem podem escolher entre apedrejamento, fuzilamento, forca, mutilação. Esqueceram das ocupações violentas do Haiti, das mortes nas fronteiras daqui de cima.
Vou chegando mais perto. Qual poder reveste os traficantes e donos dos morros e favelas cariocas a ponto de a própria polícia e autoridades mostrarem-se sem forças, e os governantes considerarem suas áreas como ocupações fortificadas? Um novo cangaço?
Favelas de São Paulo têm virado tochas, em um movimento claro de ocupação não só imobiliária de áreas nobres, como também de demonstração de força, da lei do quem-manda-aqui. O terror. São Paulo, uma das maiores metrópoles do mundo já parou, sob a ameaça do PCC naqueles terríveis e inesquecíveis dias de maio. Isso foi esquecido? Todas aquelas mortes? Ônibus tostando? Fuzilamentos à luz do dia?
Esse clima de X versus Y, Copa do Mundo, Brasil ame-o ou deixe-o, inclusão, inserção digital e outras tem nos deixado a cada dia mais individualistas, e isso não é nada bom para quem pretende um, pelo menos, algum, Futuro. Não podemos ligar a maquininha do "foderaiser", em sua forma mais aportuguesada, por menos que tenhamos relações com alguns fatos. Lembre sempre: a próxima vítima posso ser eu, você, nós todos.
Ao nosso lado, uma dirigente tenta fechar jornais; o ditador volta à vida; o general aparece cheio de comendas, arrotando nacionalismo, enfrentando potências, jogando povos contra povos.
Estamos com nossos dados particulares expostos como bundas na janela, de dados fiscais a pessoais. Andam querendo fazer leis até para dentro de nossas casas. A propaganda, direta e a subliminar, vem sendo inoculada nas veias, como um veneno letal, absorvido principalmente pelos mais jovens, que não viram, não sabem, não sentiram. E não estão nem querendo saber.
O caminho do perigo é conhecido. Não precisa ter bigodinho, nem levantar o bracinho nas multidões. Hoje a cara do fascismo é outra, mais palatável, repaginada, ares de modernidade. A estampa da caveira permanece, e não só nos paninhos do estilista metido a besta. Não são caveiras de bandeira pirata. Hoje, os piratas voltaram só a roubar, e nem bandeira têm.
• (*) Marli Gonçalves é jornalista. Preocupa-se muito quando minorias acham que estão fortes, que está tudo dominado; quando os miseráveis acreditam no sucesso... dos outros; quando a violência contra o próximo é ignorada, porque está no vizinho.
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