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sexta-feira, 23 de abril de 2010

O que te dá mau humor, dá mau humor em mais alguém? Por Marli Gonçalves

Mau humor tem de possuir, e fazer sentido, senão não vale a pena. Parafraseando o jingle, deve transmitir, pegar, dar mau humor em mais alguém, sim. Senão, perde o efeito. Tudo na gente é contagioso. Irradiamos para uns e outros.


Fico de mau humor quando não estou a fim e me deparo com tudo o que exatamente não estava a fim. Começou na primeira letra que bateu, maldito U? Maldito L. Antes que eu me irrite com você também, escuta aqui. Vê se aprende: O contrário de BOM é MAU; o contrário de BEM é MAL. Entendeu? Eu fico de mau humor, quando as coisas vão mal.

Há palavras que me deixam de mau humor. Umas, porque têm letras que teimam em sempre sair andando sem pedir licença. Pauta perde letra. Colchão perde letra. Pororoca troca. E depois se escondem de revisões severas - essas palavras vivas. Você só as descobre depois que mandou o texto pagando o maior mico. Ou palavras que até o som delas irrita: Roussefff, Roskoff*, Morales, Chávez, Bolivariana.

Há propagandas de tevê que me deixam de mau humor. Criancinhas margarina, velhos felizes com a previdência privada, ofertas imperdíveis e ilegíveis, e as que pensam que você é otário. Há algumas conceituais que você tem de pensar muito, dias a fio, para ver se entendeu direito, ou se tem de voltar para a escola. As cotas raciais e eleitorais nos anúncios de governo, grrrr... 10% negros, dos quais 5% certamente e claramente bem-sucedidos, 14% mulheres, 16% homens, tantos loiros, morenos, ruivos, com dente, com rugas, descolados. Sabe, eu queria muito me mudar para esse país que eles mostram, tão lindo, tão perfeito, tão igualitário, com governantes tão legais! Fazer o casting desses filmes deve ser uma loucura. E ainda por cima aparecem as pessoas felizes que compram naquele supermercado, esbanjando alegria, saúde e dinheiro, depois ainda dos anúncios partidários - pérolas, verdadeiras pérolas. Comunismo, socialismo, democracia cristã, tudo igual. Ninguém mais precisa estudar sociologia.

Imagino os publicitários se estiverem de mau humor, tendo que criar alguns desses anúncios quase onânicos. Mulheres com TPM compreendem bem esse processo. É um mau humor que vem de dentro, queima; quase incontrolável. Tudo, simplesmente tudo, pode irritar. Descer com alguém no elevador (que perfume horrível!), ter de esperar na fila da padaria, ou mesmo da esteira da academia. Sorria. Você não pode esfolar ninguém hoje.

Nesses dias, claro que por coincidência, tudo se acumula para piorar. Dinheiro me dá mau humor quando falta. E quando falta você precisa. Vai ser quando o gás vai acabar, o pneu fura, o computador trava, o cartão estoura, o cano estoura, seu saco estoura e você dá topada com o pé, acorda com torcicolo, fica com azia. O vizinho do lado resolve dar uma festa ou começar uma reforma. Em círculos viciosos, quanto pior você ficar, aquilo vai contaminando, piorando. A astrologia diz que a culpa é de um planeta aí, pesado, que passa no seu céu. Mais essa. Além de impressões digitais, das íris, temos céus! Só nossos.

A lista é grande. Você pode estar verificando que o sistema caiu, sentimos muito. De gente falando gerúndio às coisas complexas que só funcionam com um Mané do lado, tipo catraca de entrada de prédio inteligente e moderninho. Hora marcada que só você respeita, isso também é dose. Assim como conversa fiada, assobio, corneta, falta de fogo na hora de acender, gente que gruda. Tem coisas mais irritantes, querida Fernanda Young? Até aqui, confesse, enquanto lia você fazia a sua lista. O que te dá mau humor?

Enfim, é bom pôr para fora. Exorciza! E nada melhor para acabar com o mau humor do que o bom humor. Sabe como melhorei outro dia? Fiquei imaginando o desfecho da novela das oito! O Marcos Mayer pobre, tendo de trabalhar para o argentino; a garota enxaqueca descobrindo finalmente sua afinidade sexual e casando com a japonesa médica; a Luciana casando com o gêmeo errado; a Helena descobrindo-se uma Naomi, e resolvendo abrir uma loja lá na pousada só para vender os macacões que usou durante a trama, ao lado dos vestidos longos e vaporosos da mãe; o dono da agência, como se algum deles fosse bonzinho como ele é, largando tudo para ser drag queen. Aquele núcleo da jornalista com a prima e o marido misturava tudo numa enorme suruba, e todos viveriam felizes para sempre. A pentelhinha noiva do Chucky faz uma dupla sertaneja com o moleque que passou a novela inteira tentando tocar piano. Enfim, a única personagem lá que, por mim, se dá bem é a Renata, da Barbara Paz, linda, fresca, loira, global, e pulando para lá e para cá com aquela asa delta do Rodrigo Hilbert.

Contagiou?

São Paulo, e pode pôr mais água no feijão que eu estou voltando.



Marli Gonçalves é jornalista. Detesta ficar de mau humor. Fica muito mal.


* E, a propósito, Roskoff era um relógio daqueles de bolso, redondo como, digamos, aquela palavra de duas letras que começa com C - sim, CD. E o povo do Interior usava Roskoff como sinônimo, digamos, daquela palavra de duas letras que também começa com C, mas que não é CD, até porque naquele época não havia CD, mas o Roskoff sempre existiu.


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