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domingo, 28 de março de 2010

Improvisos e Improvisações, por Marli Gonçalves

Improvisos e Improvisações, por Marli Gonçalves

Um cabo de vassoura com a ponta bem enrolada com durex duplo ou aquela fita crepe, bem grudento. Não pode abaixar? Veja como ajuda. Quem não tem cão, caça com gato. Tem horas que precisamos de toda a nossa criatividade para inventar e nos virarmos. O improviso varia de acordo com a necessidade. Ou com a preguiça. Temos de ter desprendimento para improvisar.


A dica do pau grudento foi da enfermeira, já que não posso me abaixar (nem me rebaixar) pelo menos nos próximos dois meses. E tudo cai da mão quando não pode cair. Achei genial e pensei quantas coisas nós “armengamos” todos os dias. Por preguiça, ou até por praticidade. Nossa capacidade de inventar arranjos e soluções, mesmo que temporárias, é algo que deveria ser mais bem explorado. Poderia até virar uma tese. A dúvida é qual título seria: “Nós, os Professores Pardais”, “Nós, Os Patetas”< /em>, ou “O Nosso Lado Doido em Situações Saia Justa”.

Não, nem vem. Não é feliz quem ainda não lambeu a faca, ou usou a colher grande na xicarazinha; ou a ponta da faca. Ou comeu com colher, de preguiça de procurar o garfo. Não é feliz quem nunca raspou o tacho, ou comeu na embalagem mesmo.

Quem nunca comeu pizza fria? Amarrou o cabo da panela? Tirou uma pilha de um lugar para passar para outro ou tentou botar uma pilha nova só? Quem nunca p�?s roupa para secar atrás da geladeira, ou tomou mesmo aquele café frio de ontem? Hummm, que preguiça, ter de acender o fósforo, abrir o gás e ficar vigiando para não ferver.

Quem nunca disfarçou um dia inteiro a sola de sapato furada ou ficou com o bracinho reprimido para não mostrar aquele furinho embaixo do sovaco? Já amarrou o botão da blusa que estava louco para cair? Claro, você já fez barra do jeans ou outros modelos com grampeador (ou cola, ou fita dupla, ou ainda deu aquela dobradinha). Não?

Quem nunca usou um guarda chuva despencando, porque qualquer coisa ele ficaria lá pela rua? Mas há anos ele te acompanha quebradinho, desbeiçado e quebra o maior galho.

Na maioria das vezes não é uma questão de economia, falta de dinheiro ou avareza. Às vezes é paixão, um amor inexplicável por alguma coisa. Você é capaz de matar por aquele negocinho. Alguns objetos, sapatos, camisetas, têm esse dom de te conquistar o resto da vida, ganhar mais amor do que seus irmãozinhos de armário, acompanhar toda sua vida.

Tenho um grande amigo, amizade de mais de 30 anos, a ponto de chamá-lo “meu irmão loiro”. Ele tem uma faquinha vermelha, daquelas com cabo de plástico e serra quase gasta de tanto limar, de tantos anos de vida. Quer mexer com ele, é só pegar a danada da faca sem autorização. Um dia, ao hospedar um amigo, pânico! A faquinha tinha sumido. Quando ele a descobriu suja, usada sem autorização, jogada debaixo da cama, o hóspede não teve outro jeito: teve de se mudar. E rapidinho. Objetos assim são como filhos. Há de se compreender. Não há faca de ouro ou prata que possa substituir esse af eto. Todo mundo tem a sua xícara quebrada, cueca ou calcinha velha, enfeite kitsch, seu absurdinho pessoal.

Agora quem usa dois lados de uma folha para imprimir é politicamente correto e há lei dizendo que não se pode mais fazer xixi na rua. Já fez xixi na estrada? Faz e me conta depois se tem coisa melhor. Quem nunca deixou no chão aquele coc�? mole do cachorro, porque não dava mesmo para limpar? Sorry! Assobia e vai indo, saindo de fininho... Louco para ninguém ter visto e a chuva lavar logo. Afinal, não é maldade. É necessidade que só quem tem cachorro desarranjado sabe perdoar.

Há esta variação dos improvisos: há os feitos por necessidade, os meramente econ�?micos e os de nossos vícios e pecados, como o da gula e o da preguiça. Quem nunca se secou com a toalha de rosto? Testou até onde ia o limite do tanque do carro, para só amanhã passar no posto? Quem nunca comeu o resto do prato de alguém, pendurou a roupa em cabide de tintureiro, não usou aquele óleo mesmo, para não desperdiçar, ou lavou a cabeça com sabão?

Soltou um pum e fez cara de nuvem. Roubou internet sem fio. Tirou o jornal da porta de alguém, nem que seja só para dar uma espiadinha? Lambeu o dedo na falta de uma torneira. Acendeu bituca, quando não tinha outro jeito? Usou elástico de dinheiro no cabelo ou grampo sem cabeça? Limpou a unha com clipes aberto? Ou lixou a unha na parede? Não disfarçou, por debaixo da mesa, e abriu o zíper da calça ou o botão para ficar mais confortável? Soltou o sapato do pé para relaxar os dedinhos? Juntou lixinho no saquinho do supermercado? “Esqueceu” de devolver alguma coisa, tipo livro, CDs e outros?

Quem nunca limpou com outra coisa? Quem nunca amarrou a torneira? Nunca p�?s Bombril na antena, sumiu com o chiclete por debaixo da mesa ou no arremesso livre à distância? Virou o lado sujo para dentro? Lambeu o prato? Entornou aquele restinho do caldinho do prato mesmo?

Acusado, 1, 2,3! Que atire a primeira pedra.

Sou de fazer arranjos, usar as coisas com outras aplicações (tipo saia que vira blusa, vestido que vira blusa, o lado de trás, para frente. Arrematar com broche, prender com o cinto ou, por dentro, com alfinete). Adoro inventar moda. Aumentar a utilidade das coisas. Por isso tenho curtido muito as dicas para sobreviver nessa convalescença. Já roubei a mãozinha de coçar as costas do meu pai. O gato adora um carinho com aquilo.

Cadeira de banho? Que tal levar a cadeira de praia para o chuveiro? Lavar a cara meia Kendall de compressão e por para secar ao vento enquanto toma banho, igual a uma biruta de aeroporto. É pá e pum. (Dicas do médico, Dr. Edmilson Takata, que é bárbaro e, o que é melhor, vive nesse mundo, sabe das dificuldades fora do hospital e do preço das coisas). E as almofadas, para que servem, quando você só pode sentar em coisas altas? Aliás, meio sacanagem, mas também vou passar os próximos dias só sentando em coisas a ltas e duras, com as pernas (semi) abertas, tomando muito Ferro, para a anemia. Com as pernas para cima e sem calcinha, para não apertar. Mas, de resto, nem pensar. Recesso total. Tem ângulos que foram totalmente proibidos para mim. Mas só por uns tempos.

Estou é amarrando cachorro com linguiça, como diz o povo.

São Paulo, enfurnada, ovinhos de Páscoa e torcida para ter paciência.


Marli Gonçalves é jornalista. Tirou uma maçaneta da perna. Botou um ossinho de cerâmica alemã, que já adotou de forma apaixonada. Acha que vai até dar nome. Pedrita, Bolinha, Cyborg, Wolverine, Prince, Totó...




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Um comentário:

José Carlos disse...

Tirar cera do ouvido com a tampinha da caneta,não deve, mas quem nunca fez. e aquela coceirinha no ouvido, com a tampa fica mais gosto coçar.