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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Cinquentinhas, por Marli Gonçalves



Quando a gente tem 10, quer ter 18. Quando tem 20, quer parar por aí, mas não consegue. Nos 30, 40, 50, teme o 60, o 70, o 80... Mulheres independentes estão mudando isso, e de forma mais rápida que os homens, se falarmos em termos de idade. Décadas loucas! Mulheres incríveis!

Posso falar porque já cheguei. Tem um monte de gente que chegou também, mas não admite nem no pau-de-arara. Morro de rir ao encontrar algumas destas pessoas que conheço nas páginas daquelas revistas. Agora a nova moda é ter – repara só - 38 anos. Uma espécie de mentira branda - deve parecer - como se o número abrandasse a terrível curiosidade alheia (mais de 30, menos de 40). Se alguém faz as contas ficará pasmo de ver que a pessoinha teve filho com uns 11, 12 anos... Outro dia fiquei pensando nisso por causa da Leila L opes. Teria ela se suicidado, mesmo se soubesse que iam escarafunchar as coisas dela e descobrir que tinha 50 anos?A coitada se mata, deixa carta mostrando agruras e amarguras e ainda descobrem que mentiu a vida toda. E isso vira manchete.

Qual o problema, gente? Mulheres incríveis como Madonna, Marília Gabriela, Tina Turner, Angela Vieira, Vera Fischer, Betty Faria, só para citar algumas, são tudo do bom e do melhor. Acabo de decretar, antes de todos, frise-se bem: esta década será a das mulheres, mas só das incríveis. Teve anos 50, anos 60, anos 70... Lembro que os 80 foram os anos da individualidade. Os 90, marcados pela tecnologia, pela virtualidade, inclusive na área plástica do photoshop. Daqui a um ano você vai ouvir sobre a década que começou no bug chabu e que espero que não acabe em rimas.

Quando a gente escreve, acontece de uma coisa levar a outras, do pensamento sair andando em muitas direções. O meu foi em busca do que eu própria pensava da vida, de como pensava que seria chegar a 2010, como seria, quando estivesse então com os 52 anos que completarei em junho. A gente sempre pensa em números redondos nessa hora. Onde estarei em 2020?

Recordo que a idéia me apavorava um pouco. Quando a gente é jovem vê 50 anos como fim de linha. Mas eu pensava se estaria bem, viva, e com a vida resolvida. Nunca pensei em filhos porque decidi não tê-los aos 18. Hoje ainda não entendo por que, no otimismo, a gente sempre acredita que não vai precisar trabalhar e pastar a vida inteira, a verdade (ou mentira) que aprendi logo, logo. O que faz até com que não tenha me decepcionado tanto assim. Na minha cabeça, a esta altura estaria viajando o mundo. E não é bem assim.

Frustro-me sim com o que, para mim, seria A Grande Liberdade que estaria desfrutando hoje. Meus amigos viraram pais, avós, e viajam para baixo e para cima. Outros e outras casaram, têm pensões, heranças, propriedade. Eu t�? grudada aqui, igual ilha, terra de vontades, cercada de dívidas.

Mas me contento em ter conseguido pelo menos chegar até 2010 mantendo um prumo mínimo, de coerência de vida. As condições físicas não são as melhores e nem as medidas as mais enxutas, mas estou com a cabeça viva, pensante, querendo mais e mais de tudo, incluindo tudo nisso.

E aí vejo que já cheguei até muito mais longe do que sonhava, ainda menina. Tenho muito que contar desta vida de emoções, aventuras, amores, peripécias, cambalhotas e saltos. Mais de sete vidas. Tudo com gosto de quero mais. E experiências que, tenho certeza, ajudariam muita gente a ir em frente, e sem mentir a idade. Grandes amigos, grandes perdas, boas histórias assistidas. Grandes amores de homens e mulheres que ainda hoje mudam o mundo, pintando, bordando, musicando, escrevendo, fotografando, politicando.

Quando soube do mini-seriado de tevê Cinquentinha fiquei entusiasmada pensando que talvez o super e vivido Aguinaldo Silva conseguisse ao menos resvalar na essência das grandes histórias femininas. Ele até conseguiu, mas é apenas uma comédia. Uma comédia com tudo muito real e possível, mas uma comédia. Uma espécie de Sai de Baixo, Toma Lá, Dá Cá, A Grande Família dos Jardins ou da orla carioca. Veja só que maluco: a vida real das três atrizes principais é muito mais interessante do que a dos personagens que acabaram “caricaturizando”, essas nossas modernas e reais Chiquinhas da Silva, Maysas, Pagus.

Pena. Mas vou acreditar que ainda verei nas telas ou telinhas esse Sex and the City, As Anormais, As Filhas do Brasil. Mulheres bem reais, que estão aí por todo o lado, embora algumas hoje tentem se esconder. E esconder suas rugas e seus destinos.

São Paulo, fecho de ano, Balanço Geral com expectativa e retrospectiva.

Marli Gonçalves, jornalista. Roqueira aos 15, Feminista aos 17, jornalista aos 18. Batalhadora durante toda a vida. Moleca aos 51. Reconhecida aos 52?


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