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sábado, 11 de julho de 2009

Comentário ao artigo de Delúbio Soares ao jornal Diário da Manhã (GO)

03/06/2009

Mandei este comentário ao Diário da Manhã de Goiás por causa de um artigo publicado de Delubio Soares.
Leiam abaixo o artigo do mesmo...

Mas será possível que qual fênix esturricada Delúbio pretenda, através deste artigo, renascer das cinzas?
O teor deste texto não passa de uma camada do chamado "ouro-de-tolo" a tentar recobrir uma pílula de veneno...

É só recordarmos de suas feições meio abobadas durante as arguições na CPI do mensalão, continuamente repetindo..."reservo-me o direito de permanecer calado"...por não poder responder ao que lhe perguntavam, sob pena de faltar com a verdade ou jogar todos seus companheiros na fogueira. Mesmo assim foi "premiado" com sua expulsão do PT...

Quanto à sua contribuição para a educação em Goiás penso ter sido nula já que trabalhou durante anos, mas para o Sintego.
Parece que teremos que estar sempre rememorando fatos para chacoalhar a memória dos cidadãos...


Mara Montezuma Assaf


Goiás, compromisso de vida
02/07/2009 - DIÁRIO DA MANHÃ - GO

Ao contrário da Itabira do Mestre Drummond, Goiás não é um retrato na parede doendo em minha alma. Minha terra é um compromisso de vida e de luta, de amor e de alegria, de trabalho e de estudo. Não creio no homem sem raízes, sem acentuado afeto à sua terra natal, sem admiração pelos valores de sua gente, sem paixão pelas riquezas de seu torrão. Nunca tive o menor temor de ser tido por caipira ou matuto por ter adoração pela culinária goiana. Não há comida no mundo que me faça feliz como o arroz fumegante exalando o odor abençoado do pequi. Faço uma viagem transcendental, profunda, sensitiva, personalíssima, que cura feridas e dissipa qualquer mágoa (que, aliás, não consigo sentir, graças a Deus), e volto ao fogão-a-lenha de Dona Jamira, seus temperos, minha infância humilde mas muito feliz em Buriti Alegre, ao lado dos irmãos, debaixo do olhar severo e da alma bondosa do “seo” Catonho. Minha infância foi feliz. E acho que aí está a chave de ser um homem que não conseguiu deixar-se quebrar pela dor ou pelo sofrimento. A força que me sustenta vem das entranhas da minha terra natal, amada e sempre presente. A vida em Buriti Alegre era singela. Acordava cedo para ir à escola e de tarde trabalhava na lavoura. Despertador é uma chateação para quem sabia da hora certa pelo galo que cantava, infalível e afinado, lá no fundo de nosso sítio. Tanto eu quanto Carlão, o mais velho dos quatro irmãos, trabalhávamos duro para ajudar no sustento da casa. À época, era comum que os filhos começassem cedo na responsabilidade de ajudar no trabalho diário da família. Também foi assim com os caçulas, Delma e Carlos Soares. De Buriti Alegre para a cidade grande foi um passo! Goiânia, que era há exatos 38 anos menos da metade do que é hoje, me parecia uma metrópole! Encantado e pasmo. Logo, no saudoso Colégio Lyceu de Goiânia, fui estudar e me iniciei na política estudantil. Estava no sangue, queria participar, debater, lutar. Numa transformação brusca, troquei a enxada pelos livros. E devo confessar que sinto o mesmo respeito e o mesmo carinho tanto por um quanto por outro desses instrumentos sagrados de vida e de trabalho. Naquele período, dividia o quarto com amigos no Bairro Popular, Setor Universitário, Vila Nova e tirava o meu sustento dando aulas de reforço em Matemática. Além do colchão, os únicos móveis eram dois caixotes de frutas, que fazíamos como guarda-roupa e estante de livros. Tão logo conclui os estudos secundários, passei no vestibular para o curso de Matemática na Universidade Católica de Goiás (UCG), e a minha rotina se dividia entre os estudos e as aulas particulares. Foi quando fui convidado para ser professor substituto nos colégios Ateneu Dom Bosco, Bandeirante e, mais tarde, ingressei como professor efetivo no Dom Abel e no Lyceu de Goiânia. O “vírus” estava inoculado: ler, estudar, debater, ensinar. Quando me chamam de “professor”, ainda hoje, sinto um misto de orgulho e de emoção. Não demorou muito para que ingressasse na luta pela anistia e pelo movimento sindical. Em plena ditadura militar, o verdadeiro sindicalismo e os movimentos estudantis eram proibidos. Na Paraíba, onde fui fazer especialização, conheci várias pessoas ligadas ao movimento sindical. Voltando a Goiânia fundei, juntamente com os companheiros Osmar Magalhães, Niso Prego, professor Getúlio, dentre outros, o antigo Centro dos Professores de Goiás (CPG), que deu origem ao que hoje é Sindicato dos Professores em Educação do Estado de Goiás. O CPG realizou a primeira greve de professores do Estado, à época do governo de Ary Valadão. O movimento cresceu e Goiânia foi sede do Congresso Nacional dos Professores (Congresso Paulo Freire). A luta sindical se mostrava cada vez mais forte e atuante no País. Foi nessa época que começou a surgir no Brasil a necessidade de um partido que realmente tivesse compromisso com a classe trabalhadora, e no dia 10 de fevereiro de 1980, em São Paulo, assinei a ata de fundação do Partido dos Trabalhadores, o PT. Logo depois fundamos a Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Goiás, da qual fui o primeiro presidente. Mais tarde, tive também a honra de presidir o Fundo de Amparo ao Trabalhador. Em todas as posições que ocupei nada me gratificou mais do que ter sido tão-somente um militante para a construção de uma sociedade sem explorados e exploradores. Afinal, são cerca de quatro décadas de luta e mudanças estruturais que a sociedade brasileira precisa e exige. O homem é o que ele traz da infância e da família. Nosso caráter, os valores mais caros e verdadeiros, as antipatias, os afetos, as manias, tudo. Eu trago tudo isso, e trago mais ainda: Goiás. Sou 100% goiano por onde quer que vá. Tenho sempre um referencial goiano, um valor de minha terra, um ponto cardeal do Goiás para fazer as comparações e saber se isso ou aquilo é bom ou ruim. Qualquer poeta eu comparo com Cora Coralina. É difícil a velha e doce matriarca de nossas letras ser superada... Escritor para mim tem que ser tão bom quanto Bernardo Élis, nosso imortal da Academia Brasileira de Letras. Em viagem pela China, não faz muitos anos, ví o gigante continental sendo despertado pela economia pujante e a conquista dos mercados internacionais, mas com organismos oficiais fortes, com a absoluta defesa das riquezas e potencialidades da grande Nação milenar. Lembrei-me de Mauro Borges, despertando o Goiás arcaico, oligárquico, antigão, criando a Metago, a Caixego, fazendo o Estado sertanejo e acanhado inserir-se no século XX com quase meio-século de atraso. E fazia sentido minha comparação. Imerso em múltiplas leituras vou me surpreendendo com bons autores, cronistas com belos estilos e textos irrepreensíveis. Lá vem Goiás: “é tão bom quanto o Batista Custódio?” - pergunto de cara. É difícil, mas já encontrei alguns do calibre do velho bruxo da pena mais talentosa de nossa terra. Agora Batista Custódio e seus companheiros que fazem o Diário da Manhã me oferecem a possibilidade de, como cidadão e como professor, como goiano e como homem público, encontrar-me semanalmente com seus leitores. A melhor força de agradecer essa oportunidade ímpar e honrosa é ir logo avisando que farei desse espaço uma oportunidade de discussão de nossa terra, nosso País, nossas dificuldades e esperanças, sem medo, sem ódio, com equilíbrio e absoluto sentido democrático e pluralista. Contam que a Nasa tentou preparar um astronauta de fé islâmica para ir ao espaço em uma de suas expedições científicas. Era dos mais qualificados, mas tinha um problema aparentemente insolúvel, além de absolutamente inusitado: como saber, solto no espaço sideral, qual a direção de Meca na hora sagrada de suas orações? Como ajoelhar-se humildemente em tal hora em plena gravidade zero? Batista não me convida para ir ao espaço, mas como o cosmonauta que não abandonou suas origens nem renegou sua fé sequer lá em cima, bilhões de quilometros de nosso pequeno e distante planeta Terra, devo confessar que por onde ande e vá, em qualquer situação, Goiás é minha referência principal, é minha identidade mais marcante, é meu afeto mais íntimo e intocável.

Delúbio Soares é professor

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