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domingo, 18 de abril de 2010

Até vulcão espoca, por Marli Gonçalves


Esses dias misturei muitas imagens, sons e cores nos meus sonhos. Não é para menos: a gente passa o dia recebendo informações de tudo quanto é lado e de noite, enquanto dormimos, embaralhamos tudo. Todos nós somos mesmo muito criativos.


Um amigo punk tentava se encaixar em um vestido de paetês rosa, rabo-de-peixe. No outro dia era eu quem visitava os cachorros do Eduardo Suplicy, e o que é pior: lembro que ele morava na Avenida Brigadeiro Luis Antonio, número tal. Impressionante como esse número se destacou na história que criei enquanto dormia. No meu sonho ele tinha até uma mulher legal. E uns cinco cachorrinhos daqueles pe ludinhos de bigode, que ambos usavam como escovão, para lustrar e brilhar uma escada de madeira do sobrado. Aí todo mundo foi despejado e foi morar no canteiro central da Avenida Brasil, aqui em São Paulo. Que tal?

Meu amigo Heitor Werneck se encaixou no vestido rosa Geisy numa outra noite, do mesmo dia em que meu irmão recordava, com sua visão de criança, a saia rabo-de-peixe em que a mamãe, ainda bem jovem, se aventurou e manteve no armário daqueles a nos 50. Nunca saiu do armário. A tal saia. Ele lembrou também de como as saias plissadas tinham aquelas pregas passadas exaustivamente, uma a uma. Ela sempre teve essa mania de ter coisas lindas, modernas, arrojadas, de bom gosto, que comprava a bom preço, como boa canceriana. Mas não as usava - sempre mineira, maneira, espartana, recatada. Mamãe gostava de olhar para as suas coisas, meio egoísta e, ao mesmo tempo, previdente. “Teve tempo que só tive uma blusa que lavava de noite para secar e usar de dia”, justificava. Muitas foram compradas para, ou apenas, pensando em mim , que até hoje herdo peças geniais. Dela, herdei também o olhar sobre coisas especiais. Mas não herdei o recato, muito menos a mania de guardar tudo virgem. Compro e uso. Às vezes até na mesma hora. Adoro bater uma roupa.

Mas, voltando à medida dos sonhos noturnos, coloridos e reveladores, já não é tudo tão doido nem delirante. Nesta mesma semana passada, na realidade terrena, teve vulcão na Islândia gerando uma nuvem de letrinhas e perigos – o local da geleira chama Eyjafjallajokull - que parou a Europa; enchentes encharcaram o nosso Nordeste; mais terremotos e tremores atingindo a China, o Tibete. Fora as ondas altas havaianas nos beira-mar e calçadões brasileiros. Lula posando de líder internacional moderador e Dilma/Serra/ Mahmoud Ahmadinejad sorrindo muito. Mais aviões emborcados, carros e homens-bomba, Ch� �vez desparafusado, e eleições indiretas na Capital Federal. Sem falar na batina justíssima da Igreja tentando cuspir em tudo quanto é prato. Quem diria?

Tem gente que não pode tomar café que não dorme à noite. Eu tomo para dormir, com um bom leite quente. Nada de comida pesada. Tudo isso só não resolve quando assisto ao jornal na tevê antes de deitar. Já despertei estremecida pelo olhar duro e reprovador do Willian Waack e às vezes entro em surto ao recordar a roupa da Christiane Pelajo. Quando de dia me contam alguma coisa forte, aquilo fica na minha cabeça e às vezes vira sonho; às vezes, pesadelo! Livrei-me outro dia, nem sei como, da cena que o satélite mostrou, de nuvens de morcegos de um lugar aí, que aos milhões se alimentam de outra nuvem, de mariposas, aos bilhõe s. Uns ao encontro da vida; outros, da morte.

Mas meus horizontes continuam limitados e tenho visto o mundo muito pelo computador, neste período de rescaldo da cirurgia e esperando a alta médica prometida para os 45 do segundo tempo. Isso faz com que tudo seja muito misturado, e de noite se transforme em sonhos, histórias inteiras para contar no café-da-manhã, divertindo-me, antes que a memória desanuvie e apague. Só os mais fortes ficam. E você há de admitir que Suplicy escovando o chão com cachorro e um punk vestido de rabo de peixe rosa são imagens que pertencem a essa categoria inesquecível.

Acho que falo de noite, além de certo ronquinho, meu ronronar particular. Há manhãs em que acordo com a clara sensação de ter ido bem longe, ter vivido toda outra história, em outro mundo, tempo, espaço e perspectiva. Esse é mais um mistério nosso, um campo só nosso, íntimo, que ninguém o usa ou pode prender nem matar ou torturar. Está dentro da nossa cacholinha, o lugar mais seguro do mundo.

Nos sonhos, podemos. Somos fortes e capazes. Se treinados, acabamos até os entendendo e usando como premonição, destrinchando seus significados e indicações. Neles, os vulcões podem ser tão inofensivos quanto os dragões, e os líderes mais inteligentes, pacíficos. E até bonitos.



São Paulo, abril fechou.


Marli Gonçalves, jornalista . Preocupada com a pasmaceira que se instala. Preocupada com a Copa do Mundo, na África, com a África, que já dá prejuízo. Preocupada com as mães, e com as noivas, que têm perdido seus filhos e seus pares. Preocupada com a Abo lição ainda não resolvida. Com a sobrevivência. Ainda bem que nos sonhos as perninhas funcionam. E eu corro dos problemas. Gente pode ferver igual água na panela. Acredite.

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