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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Ói o Cabeapá, aí, ó, por Marli Gonçalves


Onde anda o bom senso? O “Carnaval de besteiras que assolam o país”, o Cabeapá, irrompe nas avenidas e tímpanos e atravessa nossa paciência. Para ser Festival teria de ter júri. Carnaval é só deixar passar. Parece que está todo mundo meio armando, meio armado, trincando os dentes, querendo briga. Com preguiça de pensar.




É inevitável para uma cabeça de raciocínio rápido não estender alguns assuntos do dia para as fronteiras dos pensamentos impublicáveis. Não dá, sei lá, para ler algumas manchetes e não pensar, por exemplo, no seu sentido duplo. Dizem que a maldade está na cabeça de quem vê. Verdade. Só que o humor no coração de quem olha também pode ser um bom prisma.

Assim, no meio dos meus burburinhos mentais, me peguei listando, acreditem - formas de o Exército “revelar” a homossexualidade de seus pretendentes, caso continue essa bobagem de veto! Veto! Eles realmente acreditam que nas Forças Armadas não haja homossexualismo? Não, não acreditam não. Estão fazendo graça! Só pode ser! E os argumentos rasteiros que mostram que ignorância não tem limite?

Numa sala fechada, o aspirante ao Exército é filmado sem saber. No alto-falante, reveza-se o som de Gloria Gaynor, Queen, Madonna, Lady Gaga. Se o coitado mexer o pezinho, perde quarenta pontos, está fora! Mãozinha - perde dez pontos. Requebrada, vinte pontos. Dedinho, cinco pontos. Se virar o zóinho, 30 pontos.

Outra idéia, na linha sala de observação, com o aspirante amarrado com aquele aparelhinho de batimentos cardíacos: trechos de filmes pornôs, um com um, dois com um, lé com cré, cré com cré, um crê.

Na sala, uma cadeira, uma mesa. Abre-se um buraco e jogam lá dentro uma ratazana. Se o aspirante subir na cadeira gritando e chorando... Fora! (como será que vão escrever na ficha? Caolho? Pé chato? Inconformidade sexual?)

Ou, talvez, mantenham a linha adotada agora, da hipocrisia total. Não vêem que se o cara é gay pode ser um militar ainda mais duro? Acaso já lidaram com a liderança deles em outras atividades? Podem ser terríveis, acredite!

- “Sentido! Você é gay, aspirante?”

- “Não sou não. Senhor!”

Pronto. Chega desse assunto que para meio entendedor, uma palavra basta. Vamos seguir com mais Cabeapá: Não aguento mais ouvir que “o Serra não vai ser candidato a presidente”. “Vai amarelar”. Não, considerado, como diria meu amigo Japiassu! Vou ser eu. Eu que vou me candidatar para concorrer com o poste. Fui eu que passei os últimos anos acalentando esse caminho, e que vou desistir agora, na boca do lobo. Plebiscito? Melhor concorrer contra um só tipo, gente! Tudo o que eles querem é uma eleição plebiscitária, o que estão construindo bem na nossa cara de cuíca.

E o Cabeapá continua - pré-carnavalesco, inclusive, e até tira a vontade da gente se divertir. Alguém mais aguenta ver matérias do tipo “como se preparam as rainhas de bateria”? Onde elas vão colocar, enfiar, colar os seus cristais Swarowsky? Quantos milímetros de peito? Sem contar as grávidas, que ninguém merece. Fora as dietas. Cada uma mais doida que outra; e omitidas as outras droguetas.

Fico bem feliz em ver os blocos nas ruas do Rio de Janeiro, livres, cheios de folguedos e de fina ironia. Tanto calor, tantas contas para pagar, tanta falta de dinheiro tem me feito recordar do que eu gostava muito de fazer no carnaval, criança e pré-adolescente: pistolinha de água! Reuníamo-nos em grupos de dez ou mais e ficávamos na tocaia de motoristas incautos virando a esquina. Que bobagem. E que alegria. Imagine isso hoje.

E as fantasias? Indiazinha, havaiana, fada – as que eu gostava e me sentia. Hoje é fantasia de popozuda, DJ, MJ, MCs, Orkut. Nas festas dos ricos, ainda sobram xeiques árabes, com tanto tema por aí. Fantasia legal mesmo a gente só vê nas semanas de moda, mas falta gente com peito para usar aqui do lado de fora. Lá eles chamam conceito, como se proibido fosse ousar.

Se for da escola de samba, escolha a ala. Se for na Bahia, aquele paninho. E um piniquinho, que você pode precisar. O Cabeapá está apenas começando, e vai piorar muito quando o carnaval passar.



São Paulo, é fevereiro, que beleza, é Carnaval...




Marli Gonçalves, jornalista. Andei muito romântica esses dias. Também pensei no Carnaval como a linda história de amor entre o Pierrô, a Colombina e o Arlequim. Mas o Cabeapá atropelou.



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