Páginas

domingo, 27 de dezembro de 2009

Borogodó, por Marli Gonçalves


Adoro pensar e brincar com palavras, e é nessas horas que vejo que a língua portuguesa é mesmo muito louca e musical - à sua forma. Meu irmão outro dia expressou um borogodó bom enquanto a gente conversava. Acabei e fiquei pensando no borogodó- veja só a atividade relaxante que encontrei, que "Ó, do borogodó".


Viu? Tem borogodó bom e borogodó ruim. O Ó do borogodó é o fim, o ó, a última letra de uma palavra, e em uma palavra: o quê ou o quem não tem borogodó, só tem o ó. Essa expressão deve ter nascido na hora que alguém muito cheio de borogodó, o borogodó em pessoa, pisou na bola, e só sobrou o ó.

Deve haver algum estudo linguístico sobre o que é, ou deixa de ser. Mas gosto de palavras que trazem em si esse abstrato poder e potencial da imaginação. Cada um acha que é uma coisa. E tudo bem. Sinceramente não pensei em me aprofundar cientificamente, mas só dessa maneira gostosa dos brasileiros, na superfície, na carícia, no lero-lero, no Vem-pra-cá-O- que-que-tem-Eu-não-estou-fazendo-nada-você-também...


Para mim, borogodó é um charme, uma ginga, algo ou alguém diferenciado e cheio de atitude e com pelo menos duas ou três qualidades. A palavra frequentava o vocabulário do Sargentelli. Suas mulatas tinham borogodó amplo e eram do balacobaco.

Gente com borogodó é atraente, tem carisma, tem lábia, tem o que as mulheres chamam de "pegada boa", e que nos anos 60 chamava-se um "IT" . Mas em geral podem trazer problemas porque muitos vivem exclusivamente de seus méritos borogodoenses. E muito borogodó, uma pena, pode cansar e é igual eletricidade, pode ter apagão. De uma hora para outra é possível perder o borogodó - você deve conhecer exemplos; pode me poupar de citá-los, os tais.


Quando acaba o borogodó, todo mundo ao redor como que sai de um transe, e já era. Não deve ser fácil lidar com isso. Igual quando a gente põe os óculos para ver de perto aquela maravilha que vem vindo, e que quando enxerga bem não era nada daquilo.Na época que vivemos, e daqui para frente cada vez mais, surgirão muitos casos de borogodós instantâneos de quase quinze minutos, ou menos, de fama. Vai começar a surgir borogodó "último tipo", o grito. O marketing pega, tenta fazer virar e parte para outra, rápido, se não render. Porque ainda por cima ter borogodó dá dinheiro, parece igual ter sorte na vida. Em geral quem tem borogodó bom, tem sorte; nasceu virado para a Lua, numa noite de verão e bons ventos, abençoado pelas mãos do imponderável.


Borogodó poderia ainda ser nome de comida. Dois borogodós fritos. Um borogodó assado ao molho de mostarda. Borogodós recheados. Com ou sem catupiry. Cru, não! Não daria para comer borogodó cru. Talvez uma torta de borogodó? Podia ser uma coisa meio vatapá, entre o bobó e o sarapatel.


Música? Podia até ser ritmo. Tipo salsa, tango, valsa, o borogodó. Borogodó de salão. Seria uma dancinha meio embolada, meio roça-roça, encoxa a coxa, bumbalelê com bambolê. Já virou uma música porre do Wando e um grupo musical, o Ó do Borogodó, que dizem ser bom. Precisamos resgatar o termo para música e dança, talvez até para um musical grandioso, cheio de borogodós.Podia ser bebida. Em algum lugar deve existir um drink borogodó, para encher os borogodós e os gogós. Se fosse uma fruta, o extrato, o suco, o supra-sumo do borogodó deveria ter fortes propriedades afrodisíacas e de antienvelhecimento, não acham?


E se fosse uma tribo borogodó, ainda não contatada, com costumes completamente unusuais? Ou uma comunidade? A Comunidade dos Borogodós, tipo Quilombolas. Melhor não dar idéia senão capaz de virar facção, o CB, Comando Borogodó, ou o PCB, Primeiro Comando dos Borogodós.


Um partido político? Vocês estão loucos? Bem, não é má idéia. É tudo o que precisávamos. Mas onde iríamos arrumar tantos políticos com borogodó para formá-lo? Logo ia surgir um Borogodó do B, um Partido dos Borogodós Barangas, por aí afora. E pior: eles iam logo acabar com a parte boa do que achamos do borogodó.


São Paulo, 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2,1... 2010!

Marli Gonçalves, jornalista. Tudo isso só para te desejar um borogodó do bom e do melhor em 2010. Seja ele coisa, espécie, gente, podemos sim ter o nosso próprio borogodó.


Conhece o Twitter? Também estou lá. Mas falta - e eu estou esperando - você . Siga-me! É divertido. Tenho postado coisas legais, fotos, fatos, noticinhas e afazeres do dia-a-dia.
O endereço é "www.twitter.com/MarliGo"

E mais: aqui tem muito mais Marli, todos os dias. Visite a Casa da Mãe Joana. Fique à vontade. Sinta-se em casa.

E-mails:marli@brickmann.com.br

marligo@uol.com.br

ATENÇÃO: Por favor, ao reproduzir esse texto, não deixe de citar os e-mails de contato, e o site onde foi publicado originalmente, www.brickmann.com.brVisite sempre nosso site. Lá você encontra todos os artigos anteriores:www.brickmann.com.br

Nenhum comentário: