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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

CUIDADO: PAÍS DESGOVERNADO À DIREITA, MARLI GONÇALVES

Respeito é bom, e a gente gosta. Respeitem ao menos os nossos bigodes brancos, nossa história, nossas lutas. O tobogã da vida deve ter coisa melhor para se ver, para escorregar. Circos originais são bem mais divertidos e populares.

Passamos a semana inteira vendo o Circo Nacional pegar fogo, com os animaizinhos adestrados cumprindo ordens para ganhar comida e os palhaços borrifando sandices nas nossas cabeças. Assistimos a um misto de comédias com filmes de terror. Tinha mulher e homem barbado e bigodudo, pernas-de-pau, equilibristas pouco graciosas e cobras de duas idéias. Cabelos e pelos para tudo quanto é lado. Nas cabeças, nas perucas, tingidos, emaranhados, puxados. Arrancados e desgrenhados. No picadeiro, fim da picada, leão rugiu com leoa, ou ex-leoa, na Sala de Espelhos, e só quem ficou olhando bem o show, até o fim, viu que era só um tolinho, um gatinho bobo. E os mágicos sumindo com os processos e com as imagens? Teve contador de piada, só podia ser piada! E ilusionistas, muitos.Que mímica exata vocês gostariam de fazer para eles entenderem? Poderíamos usar as mãos, os dedos. Não faltou Frankenstein na festa, remontado, babando ódio. O carrossel girou, abaixando e subindo, com coronéis e jagunços. Bichos da seda teceram o novelo. Os carrinhos de bater eram guiados por eles próprios (enfim, melhor do que quando estão bêbados nas ruas). No trem-fantasma, apavorados a cada curva, nós. Ou tomando bala igual aos patinhos amarelos que ficam passando ali na frente para ser derrubados. No alvo. O país vai para a lona desse jeito. Imagine-se com uma maçã na cabeça, em frente a uma parede, e um destes seres que estão habitando nossos jornais te apontando uma flecha. Olhos tampados, cegos como estão, míopes, nos despedaçarão com a mira incerta com que atiram dia-a-dia nas suas próprias biografias, cospem fora do balde. Irrevogável é isso: está caindo a arquibancada da platéia e estamos saindo feridos e traumatizados dessa experiência. Quem está pulando igual pipoca somos nós, pasmos com o show de sombras, sem luzes. Com sons de discursos vazios. Anões sem orçamento. Senadores sem vergonha. Deputados despudorados. Teve ainda, para completar nossas descrenças, doutores abusados e que abusam da fé e dos corpos alheios, pilantras de todos os naipes, aqui e lá na... Islândia! Que show! Que semana!Não é à toa que tive pesadelos noite dessas. O Lula me apareceu para atrapalhar o sono – e, como tudo o que ele diz, mais uma vez não me lembro de ter qualquer sentido o que falava. Talvez que não sabia. Talvez defendesse Dilmão ou ditasse a carta que mandou ao Bigodão Bravo, que ia, mas não foi - versando sobre o Bigodão Arquivo Confidencial. Será que vocês conseguem imaginar os segredos que esse aí guarda e acena que contará caso o retirem de sua cadeira? Como eu queria ser uma mosquinha para ouvir as reais conversas entre eles, como combinam quem vai fazer o quê, quem cuida de quem. E, claro, quanto custará! No meu pesadelo, o presidente ria. Acho que no seu também. Menosprezava os e as que saem pelas tangentes, antes do Barco do Amor virar. Ele joga o jogo com quem lhe dá a bola ou canta antes o truco. Manda espremer laranjas que o desafiam, e fica muito nervoso quando essas laranjas entornam ou engrossam o caldo. Algo me diz que o homem-foguete está sem direção, e em cima de um salto altíssimo. E olha que ele não tinha ainda nem se enfeitado com colares de folhas de coca, Deus! Índio cosmopolita - elogiou Morales! Eles bebem e a gente é que fica tonto.A gente ri, quando deve chorar. A gente chora quando deveria gargalhar ao assistir a Os Patetas. A tenda está armada. O que tem de gente engolindo espadas por tudo quanto é lado, engolindo fogo e cuspindo sapo, encantando cobras!Mas acho que o show deve continuar ainda por um bom tempo. Elementos e novos atores e atrizes estão entrando em cena, abrindo as cortinas, mudando os figurinos e as cores dos times. Trocando de lado no campo. Com novas convocações, bordões, cortes de cenas e cacos de texto de improviso. Neste Circo, fala-se tudo. Não há ensaio. Só improviso. Melhor não levar as crianças ainda, porque não há qualquer fiscalização que possa evitar acidentes nas instalações da montanha russa que instalaram lá na planície.
São Paulo, Parque Encantado, 2009. Sem CPMF, sem eira, nem beira.
• Marli Gonçalves, jornalista. Nem mais o algodão é doce, nem a maçã é do amor. Todo mundo, no Circo Místico, menos a bailarina, "procurando bem/Todo mundo tem pereba/Marca de bexiga ou vacina. E tem piriri, tem lombriga, tem ameba/ Só a bailarina que não tem”. Nós estamos apenas com uma grife. Suína. Eu disse grife.Já entrou no Twitter? Estou lá. Siga-me! É divertido. Tenho postado pílulas do dia-a-dia por lá, um bom posto de observação. O endereço é "www.twitter.com/MarliGo”E mais: aqui tem muito mais Marli, todos os dias. Visite a Casa da Mãe Joana. Fique à vontade. Sinta-se em casa. E-mails:marli@brickmann.com.brmarligo@uol.com.brATENÇÃO: Por favor, ao reproduzir esse texto, não deixe de citar os e-mails de contato, e o site onde foi publicado originalmente, www.brickmann.com.brVisite sempre nosso site: www.brickmann.com.br

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