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quinta-feira, 30 de julho de 2009

A confraria dos telhados de vidro

Ultimamente, os noticiários estão repletos de “proezas” atribuídas ao Senador Sarney. Os fatos apresentados causaram uma justificada onda de indignação. A sociedade clama por justiça. Mas... Corremos um risco nada desprezível de achar que bastará darmos ao Presidente do Senado o hipotético, problemático, duvidoso e até merecido castigo, e estará inaugurada uma nova era.
É imperioso investigar todas as irregularidades atribuídas a Sarney e agir em conseqüência, sob pena de fortalecer a sensação de impunidade existente entre nós. Mesmo rejeitando a tese da culpa coletiva, não é suficiente contentarmo-nos com a visão da árvore, desprezando a floresta.
Se há um perigo real de desistir no meio do caminho diante da pergunta singela: ”mas é só ele?”, é justamente esse argumento que deve servir de antídoto contra a catarse parcial que se pretende promover. A galeria de merecedores de castigo é impressionante e a limpeza desse estábulo do rei Áugias, digna de um misto de Robespierre e de Hércules.
Uma vez tomada essa decisão heróica, resta saber de que maneira será possível levar a cabo tal empreitada.
Deixar essa tarefa ao “oximórico” Conselho de Ética é duvidar da capacidade da “Confraria dos possuidores de telhados de vidro” de apagar todos os vestígios de improbidade. Antecedentes não faltam e seria tedioso enumerá-los Nas atuais condições, é mais provável a transformação de Sarney em boi de piranha – na feliz comparação de autoria do jornalista Carlos Brickmann – do que a consecução da sonhada limpeza. Não há dúvida de que se está travando uma guerra suja em nome da moralidade. Como explicar as transcrições de conversas telefônicas de Sua Excelência? Partindo do pressuposto de haver autorização judicial para as escutas, não parece claro que os “vazamentos” tenham sido autorizados também. Exigir que a imprensa, de posse de informações desse quilate, se cale beira o absurdo. A imprensa não inventou, apenas cumpriu seu direito de informar. Não há uma campanha orquestrada - pela imprensa, pelo menos.
Uma vez que, de uma maneira ou de outra, os fatos vieram à luz do dia, será impossível ignorá-los. Para citar Sêneca, ao qual Sarney recorreu em sua defesa: Deve-se punir, não para punir e sim para prevenir.
Sarney é apenas um bom começo.
Há riscos envolvidos? Há. Um deles é a desmoralização do Legislativo, e seria cometer uma flagrante injustiça com os demais poderes, tampouco imunes a um exame de consciência por mais superficial que seja.
Por um momento, a sociedade sedenta de justiça deverá ignorar o alerta de Oscar Wilde: “Quando os deuses querem nos castigar, atendem nossas preces” e ir adiante.

Alexandru Solomon

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